Produtividade, desempenho, procrastinação, preguiça e a relação com o trabalho.
- jardimgrazielle
- 13 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de fev. de 2022

O que eles têm em comum? O uso do tempo que produz impactos em resultados, geralmente monetários, presentes principalmente nas relações de trabalho.
As exigências atuais são enormes quanto produtividade e desempenho – são inúmeras métricas e metas a serem batidas, somos multitarefas, e nem se fala das mulheres e a maternidade. Como Byung-chu-han bem percebeu somos a sociedade do cansaço – esgotamento físico e mental que toma conta do nosso dia-a-dia. As demandas não cessam e nosso corpo e mente gritam por um limite.
O empreendedorismo é um ótimo exemplo das mudanças que vem ocorrendo na nossa relação com o trabalho. Os vínculos empregatícios têm se tornado cada vez menos uma opção, causados por leis trabalhistas que vinculam cada vez menos trabalhador e empregado, como por escolha de modelo de gestão das empresas que buscam minimizar custos adicionais com encargos trabalhistas, e mesmo por parte do próprio trabalhador que tem visto no empreendedorismo uma alternativa ora forçada por falta de opção de emprego e ora como um estilo de vida e possibilidade de obter mais ganhos.
Neste contexto exige-se que um modelo de gestão até então bem vertical seja repensado, e autogestão entra em um processo de individualização do trabalho em que cada um se torna a sua “própria empresa”. Nos tornamos cada vez mais responsáveis pelo uso do nosso tempo e organização do trabalho. Mesmo nos casos em que se configure um vínculo empregatício, percebemos que certa flexibilização do trabalho quanto ao horário e local por exemplo, implica em uma organização maior do próprio sujeito quantos aos processos do trabalho.
Dentro das organizações, criam-se métricas e parâmetros de avaliação de desempenho cada vez mais pormenorizados. Entende-se agora que saúde física e mental está relacionada diretamente ao desempenho. Grandes empresas atentas as mudanças na organização do trabalho e muitas promovendo tais mudanças participam de forma mais ativa na criação de campanhas que visam promover o autocuidado. Dada a devida importância a estas campanhas, há um outro lado, aquele que não deixa de colocar as exigências de um ideal de saúde ligado a produtividade.
Em meio a este enquadre social aonde entra a procrastinação? O que ela nos sinaliza? Considero que a grande relevância que se dá hoje a procrastinação e a preguiça faz sentido por justamente estarem contramão do imperativo atual de produtividade e desempenho, sendo inclusive alvo de julgamentos morais. A procrastinação diz de uma tarefa que mobiliza muito de nosso psiquismo de forma que nos sentimos paralisados. É importante colocar que a procrastinação diz de um conflito em que está clara a necessidade de se cumprir determinadas tarefas, mas, por outro lado, algo em nós impede realiza-las. E este algo não é, qualquer coisa, é justamente aquilo que diz sobre você e que não está sendo possível ser dito naquele momento. Uma insatisfação com o trabalho? Algo que não faz sentido em sua vida? As exigências são excessivas? Minha relação com quem me solicita é conflituosa? Sinto-me incapaz de realizar aquela tarefa? Tenho medo do sucesso? Meu momento de vida está exigindo mais de mim e tem me impedido de desempenhar tarefas que me exijam mais? Quais são os vínculos que estabelecemos com as pessoas? Qual é a representação que determinada função e emprego tem para nós? O que buscamos onde estamos inseridos?
A procrastinação pode ser vista muitas vezes relacionada a preguiça, já que nos dois casos há a característica principal de imobilidade diante das demandas. A preguiça pode caracterizar como uma ausência ou o baixíssimo investimento energia diante de do mundo externo, muitas vezes expressa como desinteresse.
Apesar de naturalmente acorrerem e até necessária, como o caso da preguiça, que pode permitir que a criatividade flua diante da ausência de investimento externo (e presença de investimento interno); dependendo da intensidade em que se manifestam, sua frequência e o sofrimento que isto gera, certamente são sinais de que algo não vai bem, demonstrando que existe uma adoecimento psíquico. São exemplos os estados depressivos, em que é típica uma baixa volição; transtornos ansiosos em que existe um medo generalizado de que algo aconteça e imobiliza o indivíduo e em casos de estresse crônico como o burnout, em que períodos de descanso curtos não são suficientes para um revigoramento, mantendo-se um estado de esgotamento físico e mental. Desta forma os sintomas são acompanhados de um estado de sofrimento ainda mais significativo, o que demanda um acompanhamento com um profissional da saúde mental.
É importante considerar que vivemos em um contexto em que as decisões e mudanças acontecem de forma rápida e as exigências são incessantes por acompanha-las. Separar do ideal social é necessário e dar-se conta por onde passa o nosso próprio caminho.
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