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A escuta ativa do analista

  • jardimgrazielle
  • 10 de mai. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de jan. de 2022


A escuta ativa ocorre no setting terapêutico físico ou online. Seja no sofá (olho no olho) ou no divã.
A escuta ativa do analista

No post anterior: diferenças entre a escuta do analista e uma escuta leiga: a formação do analista procurei explicar sobre o percurso necessário para se formar uma analista, neste post pretendendo aprofundar mais sobre como a escuta-ativa ocorre durante as sessões com a intenção de desmistificar e esclarecer como pode vir a ocorrer uma sessão de análise.


Uma das regras fundamentais por parte do paciente é a fala livre ou a associação livre o que equivale para o analista a atenção flutuante. A atenção flutuante é o estado especial da consciência que permite escutar o que há de mais significativo em sua história, sem juízos, expectativas particulares, inclinações, preferências, voltadas não para o conteúdo específico do que é dito, mas para as repetições presentes nos discursos, as contradições e principalmente o não-dito presentes nos detalhes que se repetem na relação com o analista. A escuta flutuante é regra que fundamenta o trabalho do analista, assim como a associação livre do paciente interpelado pelo analista é regra para ocorrer o trabalho psíquico.


As perguntas são uma forma de intervenção que pode esclarecer algum ponto para o analista, mas que principalmente auxilia o paciente a escutar melhor o ponto do qual ele está trazendo. As perguntas também são formas de propiciar que o discurso ocorra, cria espaço para o lugar de fala, e com delicadeza ultrapassar barreiras que possam impedir que a fala livre do paciente ocorra. São geralmente mais presentes no início do tratamento, já que tanto para o paciente quanto para o analista, trata-se de um contato novo e que requer algum esforço para que uma relação de confiança seja criada. As perguntas são formas de estar mais próximo do paciente neste primeiro momento, entendendo melhor a sua história — sua queixa, seu lugar diante do outro, suas demandas, seus sintomas e como eles se articulam entre si. Este “acolhimento” através do interesse que o analista demonstra ao indagar o paciente sobre determinados ponto cria laços e ajuda que seja estabelecida a relação transferencial, aquilo que liga paciente ao analista para que o processo possa ocorrer.

Os cortes das sessões são interrupções em tempos necessários para que algo possa ser produzido em um determinado ponto. Saber parar a sessão é tão necessária quanto propiciar que a associação livre ocorra. A fala do paciente não pode ser um gozo sem fim e uma satisfação narcísica de falar de si para alguém que está disposta a saber sobre ele, mas ao contrário, que durante esta fala, “algo que fala em mim”, possa emergir para que aconteça a escuta sobre si. O corte nas falas durante a sessão e principalmente ao final dela pode ajudar com que a fala não se mantenha em um discurso vazio e ganhe significações.

A interpretação também é outra forma em que o analista intervém durante a sessão. É algo que está ali, quase que entendido pelo paciente, mas ainda obscuro em seu discurso e desta forma, é dado um “empurrãozinho” para que apareça com mais clareza.

Mesmo o silêncio do analista é um exercício da escuta ativa. O silêncio é forma de criar espaço para que a associação livre aconteça e que o discurso deslize levando o paciente a outro lugar em sua fala, e por isto tem seu lugar de importância. O trabalho não deve se dar por uma ânsia de intervir ao que é dito, é necessário respeitar o silêncio, deixar que as associações dos pensamentos ocorram para que emerja algo novo. Saber silenciar-se diante de alguns momentos também faz parte de uma escuta aguçada.


Entre silêncios, falas e escutas algo novo ocorre na relação analítica. No final, o desejo de saber de si por parte do paciente e o desejo do analista para que este encontro aconteça é que sustentam os encontros e desencontros que se estabelecem em cada sessão.

 
 
 

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