Diferenças entre a escuta leiga e a escuta de um analista: sobre a formação de um analista
- jardimgrazielle
- 28 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2022
A formação de um analista acontece em um tripé: estudo teórico, a análise do analista e as supervisões dos casos clínicos. Isto se dá porque existe uma amarração em que a psicanálise é construída e reformulada a partir da prática clínica, e a própria prática clínica também é feita da apreensão dos conceitos e teorias pelo próprio analista.
A formação teórica
O trabalho de escuta do analista, passa por uma formação didática profunda e extensa. Profunda por que se exige uma dedicação e esforço intelectual no acesso a obras que foram escritas por teóricos que possuíam base filosófica bastante robusta, e por isto usam-se de conhecimentos prévios nos quais sem tê-los, torna-se de difícil entendimento. É extensa porque os cursos teóricos de formação básica (que possuem durações mínimas de 2 anos) passando pelas principais teorias e conceitos não sã suficientes, não limitando os estudos a uma formação. Um analista se vê às voltas com o estudo teórico por todo o seu trajeto profissional. A própria dinâmica das mudanças sociais, dos sujeitos e por isto das subjetividades faz com que a teoria esteja em constante revisão e atualização e como dizia Lacan: “Deve renunciar à prática da psicanálise todo analista que não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época” (Lacan, 1998, p. 321). O esforço de reformulações teóricas passa por esta tentativa de apreender a subjetividade dos tempos atuais e desta forma a participação em seminários, palestras e dedicação no campo da pesquisa é um trabalho que faz parte da constante formação clínica de um psicanalista.
O próprio processo de análise
Um analista não se faz em um curso, mas ao longo de um percurso. Apesar da formalização dos estudos da psicanálise em Instituições de ensino como nas universidades, em cursos de pós-graduação e mestrado, e em próprias Instituições de Psicanálise, a formação do analista não se fecha a um cumprimento de uma carga horária de estudos e apreensão teórica/conceitual, mas passa principalmente por uma implicação subjetiva do próprio analista ao seu processo de análise. Isto quer dizer que o analista precisa vivenciar ele mesmo a experiência de colocar-se em questão, ter este encontro com sua própria alteridade, tomar consciência de sua cadeia de significantes inconsciente, deparar-se com o gozo de suas repetições, falar de suas fantasias, atravessar seus próprios fantasmas, colocar as suas angústias em fala, deparar-se com a sua demanda e a demanda do outro conseguindo localizar-se diante de seu desejo, e desta forma apreender em sua própria vivência analítica este processo.
Supervisão dos casos clínicos
A supervisão do caso clínico é o momento em que o analista relata seu caso a um pequeno grupo de supervisão ou apenas ao supervisor, geralmente um analista mais experiente, que fará pontuações sobre as sessões feitas, na tentativa de colocar aquilo que não foi muito bem escutado e que passou “desapercebido”. Além disso, a supervisão tem um papel importante para que o analista consiga escutar a si próprio, e isto lhe gera uma implicação no sentido de que ao falar daquilo que apreendeu sobre seu paciente, o analista vai se deparando com suas próprias dificuldades e entraves diante do processo. O resultado deste trabalho é conseguir que o profissional ao se dar conta dos próprios atravessamentos que o limita, ultrapassa-los, e pensar em direções ao tratamento até então não colocadas. As supervisões são práticas que todo analista independente do tempo de profissão tende a buscar, algumas vezes causadas pelo caso, outras para adquirir mais experiência e ajudar a "lapidar" a sua escuta.
O lugar de escuta de um atendimento clínico passa por muito mais que um conhecimento teórico, requer uma implicação subjetiva da qual o analista tem sempre que ter em mente. Estes aspectos e outros mais vão diferenciando a sutileza e delicadeza de que se trata um trabalho de escuta clínica de uma leiga, implicada com toda a complexidade lidar com a psique humana.




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